quinta-feira, 15 de agosto de 2013

D. Rufino: O Bispo do Coração





A Diocese de Parnaíba recebeu, com surpresa e profunda tristeza, a nota de falecimento de seu Bispo Emérito, D. Joaquim Rufino do Rêgo, ocorrido às 14h e 30min de sábado, dia 10 de agosto de 2013, em Teresina, onde se encontrava em tratamento intensivo de saúde há sete meses. Às 23h e 15min do mesmo dia, seu corpo chegou à Catedral de nossa Diocese, consagrada a Nossa Senhora Mãe da Divina Graça, onde passou a ser velado. No domingo, às 11h, na mesma Igreja, presidi a celebração da Santa Missa em sufrágio de sua alma, que contou com a participação de muitas pessoas, inclusive familiares seus. Foi uma experiência muito difícil, em virtude do meu estado emocional, e até precisei evitar a pregação. Mais tarde, às 16h, também em nossa Catedral, teve início a Celebração Eucarística Solene, presidida por D. Alfredo Schaffler, Bispo de nossa Diocese, concelebrada por vários Bispos e pelo Clero Diocesano e da qual participaram religiosos e religiosas, inúmeros fiéis leigos e leigas, familiares de D. Rufino e algumas autoridades. Ao término da celebração, os Bispos realizaram a encomendação. Em seguida, sob forte comoção e aplausos dos fiéis que lotavam a Catedral Diocesana, o corpo de nosso querido e estimado D. Rufino foi sepultado em local especial na própria Igreja.
Gostaria de expressar aqui os meus sentimentos de gratidão a D. Rufino, que me encontrou em 1986, no Seminário Maior Sagrado Coração de Jesus de Teresina, quando já terminara meu Curso de Filosofia e iniciava o de Teologia. Por ele, fui ordenado Diácono na Catedral de Parnaíba no dia 12 de outubro de 1990. Em 19 de janeiro de 1991, numa noite de ‘intenso inverno’, com a Praça da Matriz de Cocal repleta de fiéis, na presença de 24 padres e pela imposição de suas mãos, fui ordenado Padre – o primeiro da cidade. D. Rufino, muito feliz e alegre – como era próprio de sua pessoa –, agradeceu à minha família e, como ‘prêmio’, nomeou Pe. Estêvão Mitros como Pároco da Matriz de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro de Cocal. A Praça da Matriz lotada de fiéis ‘estremeceu’ de alegria. Na ocasião, convidou-me a morar com ele por seis meses, confiando a mim – juntamente com Pe. Tiago, CSSR – a Pastoral da Juventude do Zonal Norte. No dia 11 agosto de 1991 nomeou-me Administrador da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição de Pedro II. Entre outras recomendações, pediu-me para animar as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). Em agosto de 1996, enviou-me a Roma para que pudesse aprofundar meus estudos. Conquistado o título de Mestre em Teologia, retornei ao Piauí em janeiro de 1999, quando, então, designou-me para servir no mesmo Seminário onde havia estudado, lecionando e colaborando na formação dos seminaristas.
De presença sempre alegre, amiga e compreensiva, D. Rufino era fascinante ao falar de Deus e da beleza do sacerdócio. Ao pregar no retiro, em sua casa, antes de minha ordenação, ensinou-me que o padre deve ser bondoso, amigo de todos e amar o povo, qualquer que seja o local para o qual a Igreja o envie.
Sua missão como nosso Pastor foi a de servir, cuidar, e amar o rebanho de Cristo com amor total e sem medida. Em reunião com os padres, algumas vezes ‘chorava’ quando sabia que algum fiel era destratado na paróquia. Gostava de nos visitar informalmente nas festas de Padroeiro e nos fazia sentir à vontade. Suas virtudes eram tantas que passou a ser chamado, muito apropriadamente, ‘o Bispo do Coração’ – até porque, na Sagrada Escritura, o coração é a sede do amor e dos sentimentos da pessoa. Como disse Pascal, “o coração tem razões que a própria razão desconhece”. D. Rufino soube integrar “coisas novas e velhas” (Mt 13, 52) na evangelização do povo de Deus.
D. Rufino foi também o Bispo das vocações; prova é que, por onde passou, ordenou vários padres e criou novas Paróquias. Gostava de ver os padres, religiosos, e os leigos (as) em Assembleias Pastorais, refletindo sobre a renovação da Igreja ocorrida no Concílio Vaticano II, sob a inspiração do Espírito Santo, e aplicada na América Latina (Encontros de Puebla e Medellín). Fazia ecoar a Boa Notícia do Reino de Deus a todos! Deixa-nos, portanto, neste “Ano da Fé”, um legado exemplar como ‘luminária’ a nos guiar no seguimento e discipulado de Jesus Cristo, que ele viveu com amor, entusiasmo e ardor missionário. Sua memória ficará entre nós e será lembrado por muitas gerações como um homem de Deus e dos homens, de grande carisma, ternura e bondade.
D. Rufino entrou para a eternidade após longo tempo de alegrias e sofrimentos, no qual sempre se manteve alegre e confortado pelo bom Deus, que a todos consola nas tribulações. Agora, ele recebe do Pai o prêmio, pelos méritos de seu Filho Jesus, junto à Maria, a Mãe da Divina Graça, cuja festa, que ele inovou a partir da fixação de sua data em oito de setembro, cresce a cada ano. Rezemos pelo seu eterno repouso!
                                                                         
 Pe Siqueira.

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